|
Espetáculo está em turnê pelo Nordeste |
A
peça “O Beijo no Asfalto”,
escrita em 1961 por Nelson Rodrigues, em encenação pernambucana assinada pelo
diretor Claudio Lira, será apresentada noCentro Cultural Piollin
nos dias 21 e 22 de maio, às 20h. A montagem estreou no Rio de Janeiro em
agosto de 2012, integrando o projeto “Nelson Brasil Rodrigues: 100 Anos do Anjo
Pornográfico”, iniciativa da Funarte.
Esta versão de “O Beijo no Asfalto”
respeita o texto original, mas não teme acrescentar detalhes contemporâneos à
trama, como a referência às redes sociais e as inserções de imagens em vídeo
captadas no momento da apresentação, num paralelo ao
imediatismo atual da mídia, suprimindo ainda todas as referências ao universo
carioca. Tanto que a história passa a acontecer no centro de qualquer grande cidade.
A trama mostra a
reviravolta que acontece na vida do jovem Arandir, que socorre um desconhecido
atropelado e, atendendo a umpedido deste à beira da morte, lhe dá um beijo na boca. Um repórter presencia o
fato e vê no ato deum homem beijar outro homem a possibilidade de ganhar
dinheiro. O caso ganha grande espaço na imprensa, sendo explorado com extrema
crueldade tanto por jornalistas quanto por policiais sem ética e que não temem
invadir a privacidade familiar.
|
Entre 2012 e 2013 o Centro Cultural Piollin já recebeu quatro montagens de textos rodrigueanos |
A partir deste
embaraçoso ato de misericórdia – um beijo na morte – presenciado por um repórter
sensacionalista, um escândalo social se avoluma. Explorando o caso,
Amado Ribeiro, o tal jornalista, e Cunha, um delegado corrupto, destroem a reputação de Arandir,
um
homem puro até então, e de sua família, levando todos a um desfecho trágico e
surpreendente. A exploração da imprensa é tanta, que a história ganha outros
contornos, retratando os dois homens como amantes em um crime passional. A
partir daí, a vida do jovem se transforma num inferno e nem mesmo sua mulher,
Selminha, acredita que ele é inocente, ainda mais diante das insinuações do pai
dela, Aprígio, que sempre manteve o pé atrás com o genro. Há referências reais
a toda esta história.
“A
peça aborda algo que eu quero dizer e me incomoda muito: essa imprensa que
manipula a opinião pública e, principalmente, o ranço preconceituoso que as
pessoas mantêm até hoje. Não só na questão da homossexualidade, mas num âmbito mais
geral”, diz o encenador
Claudio Lira, que ressalta como grande qualidade da escrita rodriguiana esse
revelar tão cru da hipocrisia na sociedade. Com “O Beijo no Asfalto”,
Lira promove um retorno às suas origens no palco, ainda como
ator. “No início da década de 1990, fiz um curso com Almir
Rodrigues, grande ator e diretor, hoje afastado da cena por problemas de saúde,
e passamos muito tempo estudando as obras de Federico García Lorca e Nelson
Rodrigues. O objetivo era unir seus dois universos num espetáculo, mas o
projeto não se concretizou. Em 2010, consegui encenar “Um Rito de Mães, Rosas e
Sangue”, adaptação minha a partir das três tragédias rurais de Lorca,
espetáculo ainda em atividade; e, agora, consigo mergulhar numa das obras de
Nelson, o que é uma grande honra para mim, pois o considero um dos maiores
dramaturgos do Brasil”, comemora.
Com vários outros
trabalhos como encenador, em peças como “Alheio”, “Versos do Nós” e “Maçã
Caramelada”, Claudio Lira diz que teve muita dificuldade em construir as cenas
mais violentas propostas por Nelson – há embates terríveis entre Arandir e seus
opositores – e, como traço de sua própria personalidade, resolveu dar à
montagem um caráter mais clássico e psicológico, tanto que
incorporou um inédito coro uníssono ao desenrolar da história,
com personagens que usam máscara neutra sem personalidade individual e mais
coletiva, numa áurea mítica, sensorial e, por que não, poética. Tais figuras,
vestidas com ternos, funcionam como um bloco de gente que, se não comenta a ação
verbalmente, como na tragédia grega, acompanha o desenrolar dos acontecimentos
enquanto presença crítica e, por vezes, participativa. Assim como a sociedade
que rumina opiniões, muitas vezes clandestinamente nas redes sociais. São
figuras sem identidade revelada, mas prontas para julgar fatos e pessoas.
|
Conflitos, traições e mentiras na obra rodrigueana |
Originalmente, toda a
história acontece durante um dia e meio, portanto, as cenas desenrolam-se como
quadros de um videoclipe, em sucessão vertiginosa, pontuada por
trilha sonora que mescla sons urbanos a melodias originais, concebida por
Adriana Milet, e inserções de vídeo – algumas em tempo real – da videomaker
Tuca Siqueira. A iluminação é assinada por Luciana Raposo e o cenário,
figurinos e adereços pela dupla Claudio Lira e Andrêzza Alves. A produção
executiva é de Andrêzza Alves e Renata Phaelante. “É esta sobreposição de elementos cênicos – dos figurinos
masculinizados, das projeções em vídeo, da trilha musical quase constante, da
luz forte que nos remete aos cortes cinematográficos e ao cenário composto por
várias portas giratórias em 360 graus – que me interessa ao contar esta
história, algo que eu quero dizer, tendo como molho o sarcasmo presente em
Nelson ao tirar chacota da sociedade”, complementa o encenador.
Sobre o protagonista,
Claudio define: “Arandir é um personagem tão
comprometido por sua ação que duvida até mesmo da sua verdade. Portanto, assim
como Nelson, eu trabalho em cima da dúvida – O beijo de Arandir no atropelado é a
substância dessa dúvida – e a verdade, neste caso, pode ser forjada por
qualquer um, como o faz a mídia, ao transformar notícias deturpadas em
verdades absolutas, infelizmente. Este é o caráter desta tragédia brasileira,
deste homem acuado que duvida até de si mesmo”, conclui. No elenco, Arthur Canavarro (Arandir), Andrêzza Alves
(Selminha), Eduardo Japiassu (Aprígio), Ivo Barreto (Amado Ribeiro), Pascoal
Filizola (Delegado Cunha), Sandra Rino (Viúva, D. Judith e Aruba), Daniela
Travassos (Dália) e Lano de Lins (Barros, Werneck e um personagem surpresa ao
final). Ainda há a participação das atrizes Cira Ramos, Clenira Melo, Vanda
Phaelante, Renata Phaelante, Márcia Cruz e Sônia Bierbard, que mostram-se
“virtualmente” na peça, numa homenagem a todas as atrizes pernambucanas, como
opção do diretor, com falas da personagem Matilde, vizinha fofoqueira que
acompanha o drama de Arandir, além dos comunicadores Gino César e Cardinot,
este um
símbolo da popularíssima imprensa pernambucana.
OBS:
“O Beijo no Asfalto” foi escrita especialmente para o Teatro dos Sete,
com estreia no mesmo ano de 1961, no Rio de Janeiro, sob direção de Gianni Ratto e com
Fernanda Montenegro, Sérgio Britto e Ítalo Rossi no elenco, entre outros. A peça teve ainda duas
versões cinematográficas, a primeira em 1963, com direção de Flávio Tambellini
e com Reginaldo Faria, Norma Blum, Xandó Batista e Jorge Dória nos papeis
centrais; e outra em 1981, com direção de Bruno Barreto e elenco composto por
Ney Latorraca, Tarcísio Meira, Christiane Torloni e Daniel Filho, entre outros.
FICHA TÉCNICA O BEIJO NO ASFALTO
Direção: Claudio Lira | Elenco:
Andrêzza Alves, Arthur Canavarro, Daniela Travassos, Eduardo Japiassú, Ivo
Barreto, Lano de Lins, Pascoal Filizola e Sandra Rino | Participações em Vídeo:
Cardinot, Clenira de Melo, Cira Ramos, Márcia Cruz, Renata Phaelante, Sônia Bierbard
e Vanda Phaelante | Voz da Locução: Gino Cesar | Música Final / Voz: Lêda
Oliveira e Pianista: Artur Fabiano | Direção de vídeo cenário: Tuca Siqueira |
Iluminação: Luciana Raposo | Cenário: Claudio Lira | Figurinos: Andrêzza Alves
e Claudio Lira | Direção Musical e Preparação Vocal: Adriana Milet | Preparação
Física e Coreografias: Sandra Rino | Fotografias: Caio Franco e Américo Nunes |
Programação Visual: Claudio Lira | Produção Executiva: Renata Phaelante e
Andrêzza Alves | Imprensa: Moretti Cultura e Comunicação |
SERVIÇO:
Onde:
Centro Cultural Piollin.
Quando: 21
e 22 de maio 20h
Endereço:
R. Prof. Sizenando Costa, s/n – João Pessoa – PB
Informações:
(83) 3241-6343 | piollin30@gmail.com
Ingressos:
R$ 20,00 (Inteira) e R$ 10,00 (meia entrada)
Duração: 1h 30m | censura 16
anos.
Fonte e mais informações à imprensa:
André Moretti
Contatos
11-98269 6704 11-4304 6704
moretti.moretti@gmail.com